Ao entrar na sala do apartamento, não notou qualquer diferença. Os mesmos móveis acomodados em volta da televisão, os mesmos pais trabalhadores e ausentes - também acomodados em volta da televisão, com as mesmas dores na coluna e na cabeça.
Na cozinha, os mesmos copos de requeijão, os mesmos panos de prato velhos em cima da pia - enquanto os novos e bordados mofavam na gaveta - e os mesmos potinhos na geladeira, guardando os restos daquilo que ninguém vai comer.
Quando entrou no quarto, ao abrir a janela, percebeu a primeira e única diferença: dali se tinha vista para a praça dos fundos - e não para a rua da frente. Cansado, acomodou-se e dormiu na mesma velha cama de madeira, coberto pela mesma manta empoeirada e quadriculada, ao lado da mesma escrivaninha, que equilibrava-se não se sabe como, suportando o peso daquele mesmo computador amarelado e da televisão de quatorze polegadas.
Na semana seguinte, ao encontrar-se no elevador com o antigo dono do quarto, comentou:
- Gostou da vista da rua?
- Mais movimentada... É bom, para variar.
- Quando cansar, trocamos de volta.
- Fechado!
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