8.8.09

Percepção precoce

Naquela idade - que ele mesmo pronunciava orgulhoso, enquanto exibia três dedos da mão direita, depois virava a mão para si mesmo e, por fim, usando a mão esquerda, corrigia puxando mais um dedo para cima - aprendia tudo observando.

Um dia qualquer, acordou cedo e rumou para a cozinha, ávido por um bom café da manhã. Por lá, não encontrou os pais, entre gravatas e sapatos de salto, notícias e sobressaltos, com o café pronto. Logo, concluiu que havia chegado o final de semana.

Sem desistir do café da manhã, arrastou a cadeira até a frente do armário, subiu na cadeira, abriu a prateleira, alcançou a lata de Nescau, colocou o Nescau na prateleira mais baixa, desceu da cadeira e arrastou-a de volta para baixo da mesa. Depois disso, abriu a geladeira, tirou os potes de sorvete com sobras do jantar, que já o haviam enganado uma vez, colocou-os no chão, retirou o leite, colocou os potes de volta ao lugar. Fazendo um esforço enorme, apoiando as mãos na beirada da mesa, fez um esticou o corpo todo para fechar a geladeira com o pé - igualzinho o pai fazia. Tendo conseguido o leite e o Nescau, faltava apenas uma colher para misturá-los. Sem pensar duas vezes, abriu a gaveta dos talheres e, mesmo sem conseguir enxergá-los, por causa da altura, pegou uma das colheres, que ficavam à esquerda, e fechou a gaveta - dessa vez não conseguiu imitar o pai, que a fechava com o quadril.

Após preparar o leite com Nescau, derrubando apenas um tanto da mistura quando começou a mexer com a colher, foi para a sala e ligou a televisão, estava na hora dos desenhos. Sentou-se ao sofá e esticou novamente o corpo inteiro para alcançar a mesinha com os pés. Tentou parecer relaxado como o pai naquela posição, mas não conseguiu. Em alguns minutos já estava sentado sobre as pernas cruzadas.

Antes dos pais acordarem, já havia tomado banho e, quando eles finalmente acordaram e começaram a se arrumar, ele já estava pronto para sair, com a camiseta nova do Batman. Afinal, era sábado, dia de almoçar fora.

Chegando ao restaurante de sempre, conhecido pelas comidas típicas, o preferido pelos turistas naquela região, o pai solicitou a mesma mesa para três. Ao sentarem-se, o garoto começou a falar enrolado, forçando a garganta, inventando uma sequência de palavras. Os pais, atônitos, olhavam para ele sem entender. Quando o pai perguntou o que ele estava fazendo, respondeu cochichando no ouvido:

- Eu andei reparando. O garçom é mais legal e a comida vem mais rápido para quem não sabe falar direito.

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