28.2.13

Obsoleto

Os frequentes atrasos e esquecimentos do antigo capelão já vinham provocando comentários desdenhosos pelas ruas e praças, mas, ainda assim, todos queriam proteger aquele símbolo secular.

Apesar dos protestos por toda a cidade, trocaram o velho sino de bronze por um equipamento eletrônico, programado para soar nas horas exatas, ditando o ritmo dos fiéis e do comércio. A centenária peça de bronze, no entanto, permaneceu na torre, pois, além da dificuldade para removê-la e de toda a história que representava, ela era um atrativo para os turistas que esporadicamente apareciam por lá.

De início, o responsável por manter a tradição, que não se pronunciou em qualquer das reuniões sobre a substituição, parecia estar aliviado do fardo de sua função. Mas, naquele domingo, durante a missa, começaram as badaladas incessantes.

Ante o presságio de uma tragédia, interrompemos a celebração e subimos pela escadaria em espiral, enquanto ainda ecoavam pela torre aqueles sons estridentes, agora mais esparsos. Ao chegarmos ao topo, desabamos em lamentos após notar, entre as cordas do badalo, os pés suspensos.

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