26.11.12

23º Concurso de Contos Paulo Leminski

O conto Aspirações conquistou uma menção honrosa no Concurso de Contos Paulo Leminski, que é organizado pela Unioeste e pela Prefeitura Municipal de Toledo (através da Biblioteca Pública Municipal) desde 1989 e que é reconhecido como um dos mais tradicionais e disputados certames literários do gênero - o número de inscrições costuma oscilar entre 650 e 800 obras.

Recebi a notícia com muita alegria e com uma sensação de alívio, pois foi um dos primeiros textos que fiz após resolver exercitar prosas um pouco mais longas e, apesar de ter gostado do resultado, a autocrítica sempre deixa brechas para que se duvide da própria capacidade de explorar novas possibilidades.


O conto está disponível para leitura no seguinte endereço:

Finalista do Prêmio Top Blog 2012

Foram divulgados ontem os finalistas do Prêmio Top Blog, certame destinado a reconhecer e premiar, mediante votação popular (júri popular) e acadêmica (júri acadêmico), os blogs brasileiros.

Na categoria Literatura, no segmento de blogs profissionais, o blog Concursos Literários está entre os três finalistas. No dia 08 de dezembro, em São Paulo, será divulgado o resultado final, mas, independente da classificação, é uma honra ter ficado entre os três primeiros.

Agradeço a todos pela colaboração e pelos votos que nos fizeram alcançar este destaque!

Segue a lista dos que ajudaram e ajudam a construir e manter o blog, que também merecem um agradecimento especial:

Sérgio Bernardo (Nova Friburgo - RJ) , Joaquim Antonio (São Paulo - SP), Amanda Reznor (São Paulo - SP), Cinthia Kriemler (Brasília - DF), Hélio Sena (Massapê - CE), Ana Paula Scolari (Londrina - PR), Edgar Borges (Boa Vista - RR), Flávia Amaro (Uberlândia - MG), Ana Carolina Alencar (São Paulo - SP), Lucas Corrêa Mendes (Araguaína - TO) , André Telucazu Kondo (Jundiaí/Caraguatatuba/Taubaté – SP), André L. Soares (Guarapari - ES) e Rosana Banharoli (Santo André - SP)



Cabe ressaltar que o blog da revista Samizdat, com o qual colaboro como autor, também está entre os finalistas. Para fechar a lista, destaco também o portal Podler.org, que é parceiro do blog Concursos Literários e que publicou, com minha colaboração, uma série de matérias sobre prêmios literários no Brasil.

Aspirações

Ela era da época em que se espalhava a sujeira pela casa com o espanador, tarefa árdua e que não resolvia o problema do pó, mas que, ao menos, ao dispersá-lo, tornava-o quase imperceptível, ignorável. Tal como o espanador, em relação aos outros problemas da casa e da família, bases às quais se resumia sua vida, dispersava as nuvens espessas com pensamentos e tarefas aleatórias, como testar uma nova receita, cuidar do jardim ou aprender as técnicas de ponto e cruz da revista que comprava sempre que ia ao mercado, um dos poucos pequenos prazeres aos quais ela permitia-se.
Nos trinta e cinco anos de casada, abriu mão de quase todas as suas aspirações. Desistiu da faculdade, da carreira de psicóloga, dos passeios pela praça aos domingos (incluindo o almoço fora e o sorvete, sem obrigação de cozinhar ou lavar louça), das viagens ao Pantanal e ao Nordeste, do cachorro, dos dois gatos e de muitos outros planos e desejos, todos dissipados. Além disso, fazia vista grossa às grosserias, ao excesso de trabalho e aos caprichos do marido, o senhor Leopoldo Guimarães, sujeito mais sovina da cidade. Diziam que ele passava metade do dia preocupando-se em ganhar mais dinheiro e a outra metade preocupando-se em não gastá-lo; Com exceção dos domingos, que o velho respeitava como se por força de lei. A maioria fazia piadas e zombarias, mas quem sofria mesmo era ela, privando-se, presa por si mesma àquela casa com nuvens espessas de pó.
Naquela manhã de domingo, por ser aniversário dela, o marido deixou-a dormir até mais tarde, foi até o jardim, arrancou de lá algumas das rosas de que ela mais cuidava, amarrou-as com um pedaço da hera que subia pelo muro da rua e tentou surpreendê-la com o buquê improvisado e com uma xícara de café na cama. Não teve sucesso na surpresa, assim como não havia tido em todos os outros aniversários múltiplos de cinco, em que ele fazia exatamente a mesma coisa - intercalando com o cartão de próprio punho que entregava nos aniversários dos entremeios. Ainda que decepcionada, ela lembrou-se de como sorriu no ano anterior e estampou no rosto aquele mesmo sorriso insosso, agradeceu de cabeça baixa e foi preparar um chá; Detestava café.
Pouco mais tarde, naquele mesmo dia, o filho mais velho foi visitá-la. Aquele que trabalhava fora, na cidade vizinha, porque o mais novo não ia até a casa dos pais havia mais de cinco anos, desde que o pai o expulsara de lá, alegando que os gastos com telefone estavam muito altos e que havia chegado a hora dele andar com as próprias pernas. Ela permaneceu em silêncio durante a discussão e a partida; E arrependeu-se depois da inércia, mas mantinha contato com o filho por cartas que ela deixava para uma amiga dele, a caixa do mercado. O primogênito, que apareceu com um grande pacote e um sorriso maior ainda, havia fugido de casa cedo porque sabia que, enquanto morasse lá, continuaria brigando com o pai, em defesa da mãe e do caçula. Quando o senhor Leopoldo apareceu na sala de entrada, atraído pelos ruídos de visita recém-chegada, em uma das raras excursões além da poltrona no domingo, cumprimentou-o com um aperto de mão e um tapinha nas costas; Para o velho, aquilo era sinal de muito respeito, adquirido por enfrentar o mundo lá fora e, de quebra, reduzir as despesas da casa. Após o cumprimento, o filho pouco disse e logo despediu-se; Não se sentia bem ali, nunca conseguiu dissipar os traumas.
Pouco interessado pelo filho, pela esposa ou pelo pacote, Leopoldo voltou a recostar-se na poltrona da sala de televisão. Enquanto isso, ela abriu o pacote, primeiro tentando as beiradas e depois, ansiosa, o rasgando em pedaços com as unhas. Leu na embalagem: aspirador de polvo. Riu um pouco da tradução em espanhol ao imaginar o pobre molusco sendo sugado por aquele equipamento da foto, coitado, com os tentáculos ainda para fora, debatendo-se. Ao retirá-lo da caixa, conferiu o manual, montou todos os tubos e foi em busca de um local propício para o primeiro teste.
Chegando à biblioteca - que não tinha nenhum livro novo porque Leopoldo dizia que livro novo era um gasto desnecessário, uma vez que todos se acabariam no alfarrabista da praça central - ela ligou o aparelho na tomada e, de repente, viu-se fazendo desaparecer as nuvens espessas de pó. Camada por camada, retirava o pó de cada prateleira, cada coleção incompleta de enciclopédias (era muito difícil completar alguma comprando apenas as descartadas) e, também, do chão, do ar, de todo o lugar. Quando desligou o aspirador, viu-se em um novo ambiente, verdadeiramente limpo, leve.
Tomada por um novo ânimo, com um brilho incomum nos olhos, partiu para o quarto do casal e ligou novamente o aspirador. Retirou todo o pó do chão, do ventilador de teto, da cabeceira e da penteadeira. Quando foi tirar o pó do criado mudo, uma foto mal presa no porta-retratos acabou puxada para a boca do aparelho. Assustada, após duas tentativas com o pé, abaixou-se, desligou o aspirador e a foto caiu. Ao ver que se tratava de uma foto do marido na viagem de negócios que fez sozinho a São Luis e Salvador, programou o aparelho para a força média e mirou o tubo novamente para a foto. Esta dobrou-se, estalando, e rebateu sonoramente em cada curva do cano até pousar silenciosamente em algum lugar distante.
Surpresa com a potência do aspirador, ela abriu mais ainda os olhos brilhantes, sorriu e apontou a boca do tubo para o enxoval que jazia sobre a cama - com as iniciais dele e dela bordadas em ponto e cruz. Sugou toda a roupa de cama, incluindo os travesseiros. Depois, entre uma gargalhada e outra, aspirou todos os porta-retratos do criado mudo e as roupas e sapatos do armário. Seguindo para o banheiro, aspirou as escovas de dentes, as toalhas de banho - igualmente bordadas – e, por fim, os óleos de banho e perfumes que ele nunca passou nela ou por ela.
Do banheiro ela seguiu para a cozinha, ainda mais animada – quase pecando pelo excesso - e absorveu primeiro os eletrodomésticos, depois o jogo de talheres em prata - presente de casamento, ainda na caixa, as taças de vinho - que nunca foram utilizadas porque vinho era muito mais caro do que cerveja - e os velhos copos de requeijão. No entanto, quando ela virou o tubo em direção aos pratos, aquele que estava no topo da pilha passou por cima dos outros e espatifou-se no chão. Atraído pelo barulho, o velho Leopoldo levantou-se da poltrona e foi até a cozinha; Deu de cara com ela, com aqueles olhos brilhantes e esbugalhados, assustadora e excessivamente animada.
Quando os policiais chegaram, convocados pelos vizinhos que estranharam a barulheira naquela casa costumeiramente silenciosa, encontraram-na sorrindo, de olhos bem abertos, realizada e sentada em um canto da casa vazia - de móveis e traumas. Os braços e pernas do velho Leopoldo, todo desconjuntado, ainda debatiam-se em um último esforço.







2012 - Menção honrosa no 23º Concurso de Contos Paulo Leminski - Biblioteca Pública Municipal de Toledo - PR

24.11.12

Celebridade

Vivia em um jogo infantil,

sentindo-se a estrelinha
que não se encaixa nos quadrados

22.11.12

E-mail enviado por um leitor

O dono do banco
E-mail enviado por Delano Gondim

Fazendo uma busca sem relação alguma, parei nesse conto. Durante bons anos lendo quase que de forma viciosa, tenho gargalhado um pouco, e me comovido na mesma proporção. No entanto, voltando de cabeça cheia da livraria que visito, com dor de cabeça de tanto procurar algo instigante, me aparece uma pérola dessas. Unicamente comovente. De uma simplicidade genial e marcante.

Envio esse e-mail para parabenizar a você pela grandiosidade dessa pequena peça. Não lí os contos dos outros, e nem precisaria: não conseguiria entender o motivo desse conto ter recebido apenas o sétimo lugar, nem mesmo que você estivesse disputando com Fernando Sabino.

Apesar de não ter validade crítica uma avaliação de um ainda não autor, creio que deva ser importante ter um feedback real, por isso fiz questão de enviar esse e-mail. Escritores assim deveriam ser punidos criminalmente se acaso ao menos pensassem em se desestimular. Não acredito que seja seu caso, contudo, por desencargo de consciência, que sirva de estímulo. Não obrigatoriamente para que você aprimore, mas para estimular no mínimo que continue fazendo "o mais do mesmo". Isso já seria mais que suficiente.

Parabéns.

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19.11.12

Posfácio

Por meses buscou o final perfeito para a autobiografia

Após finalizar a obra, enviou-a para os editores e partiu com pressa: tinha um destino trágico a cumprir

10.11.12

Colcha de Retalhos e as Bibliotecas

Há pouco tempo descobri que o Colcha de Retalhos estabeleceu morada nas cinco bibliotecas da Universidade Federal da Fronteira Sul, localizadas em Chapecó, Laranjeiras do Sul, Realeza, Cerro Largo e Erechim. Foi uma grata surpresa e, depois dessa notícia, resolvi relembrar algumas bibliotecas nas quais o Colcha de Retalhos estabeleceu residência.

Um exemplar foi para a biblioteca do Ibero-Amerikanisches Institut de Berlim (obrigado, Clarissa!). Outro, para a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Uns tantos exemplares estão passeando por bibliotecas públicas de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Paraná.

Não sei mais por onde andam cerca de 1000 exemplares. Mas espero que estejam todos tão bem quanto estes, que com certeza estão em boas mãos; Filho a gente cria para o mundo, mas nunca deixa de querer cuidar!

3.11.12

Corretor

Enquanto acompanhava o potencial cliente até o apartamento, que não erá lá essas coisas, mas que ele tentava empurrar como uma grande oportunidade - o lar dos sonhos, falava também sobre as cercanias:

 É um bairro residencial, ambiente bem familiar...

E foi neste momento que notaram, do outro lado da rua, bem no meio da praça, o corpo de um homem que já nem mais sangrava, ferida aberta no peito, lavada pela chuva que atravessou a madrugada.

Eis que numa tentativa desesperada de emendar o furo, conter o vazamento da represa que já se rachava, complementou a fala cortada:

 Essas brigas de família, cada vez mais violentas!

2.11.12

1.11.12

Nublados

Ela tentava limpar o vidro, e repetia incessantemente:

– Não sai... não sai!

Os olhos seguiam incrédulos, cobertos por nuvens acinzentadas