10.1.12

Entrevista - Tabletes Culturais

A escritora Joana Cabral, autora do livro Fragmentos do Desencontro, entrevistou-me - por e-mail - para o site Tabletes Culturais, um projeto administrado por cinco mulheres (uma com sete anos de idade) que escrevem sobre literatura e cultura em geral.

Para conhecer o site e ler na íntegra a entrevista, clique aqui.



Entrevista para o site Tabletes Culturais:


TC) Para você o que é ser escritor?

Rodrigo Domit - Acredito que é possível dividir o termo, tal como as especializações, em lato e stricto sensu. No sentido amplo é o sujeito que escreve e que compartilha seus textos. O sentido estrito exige um pouco mais: é a pessoa que encara a escrita de maneira profissional - ainda que seja a profissão paralela - e que publica e distribui seus textos nos suportes mais tradicionais: livro e e-book.
Ainda que possa parecer uma visão hierarquizada, penso que não existe um meio de apontar se um escritor é melhor por encarar de maneira profissional e publicar em formato tradicional. Muitos bons escritores ficam de fora do mercado e transformam literatura em hobby, ao passo que muita gente ruim está por aí, nas estantes de livrarias. Espero que os e-books e as publicações independentes, cada vez mais acessíveis, tornem mais tangível a ideia de ser escritor no sentido estrito.


TC) O seu livro é de contos. Você acredita no mercado editorial para os contistas? Já teve algum livro recusado por ser de contos?


Rodrigo Domit - Neste ponto vou ser um pouco radical: eu não acredito no mercado editorial para autores em início de carreira, independente do gênero. O mercado editorial é um negócio e o autor estreante é um investimento de risco; Sendo assim, em regra, as grandes editoras descartam sem nem ler, enquanto as pequenas e médias especializam-se nas pequenas tiragens. Aí, para ter lucro com tiragens pequenas, a editora precisa ou publicar muita gente - e dar pouquíssima atenção em divulgação e distribuição para cada livro - ou publicar poucos autores, com um pouco mais de foco, mas com um preço de capa mais elevado. Não é preciso ser especialista no mercado para reparar que ambos os caminhos estão longe do ideal para quem está começando agora - sem divulgação ou com preço muito alto, o autor tende a ficar restrito a amigos e parentes.
Vive em ilusão o escritor que acredita que conseguir uma editora é algo extremamente complicado e que, após esta fase, colherá os frutos de seu trabalho. Hoje em dia, conseguir uma editora é a parte mais fácil; O verdadeiro problema está em como divulgar e distribuir a obra. Dependendo do caso, é mais vantajoso para o autor publicar-se de maneira independente, eliminando assim as editoras que funcionam apenas como intermediários entre ele e a gráfica; Algumas não oferecem nem capa, revisão e diagramação - só imprimem o livro com o selo deles na capa e colocam em algum site para vender.

É claro que há pequenas e médias editoras sérias e competentes, mas essas também sofrem na mão das redes de livrarias e distribuidoras que compõem a outra face do mercado editorial... Não acaba mais o texto se eu for falar dos problemas que afetam o ciclo do autor até o leitor.

Quanto à parte de ter livro recusado: o Colcha de Retalhos foi finalista do Prêmio Nacional SESC em 2008 e eu, na mais pura inocência, entreguei uma cópia para avaliação da editora que publicou a obra vencedora. Nunca tive resposta! Então, acho que eu ainda posso me gabar de nunca ter um livro recusado, foi só ignorado.
O processo de avaliação de originais é bem complexo e cada um tem uma opinião distinta sobre esse processo e até mesmo sobre influência dele na escrita: tem gente que fala que tem que escrever algo pensando no que pode ser comercializado, tem gente que diz que é preciso tentar descobrir a tendência do próximo verão e antecipar a escrita no tema, tem gente que fala que é preciso ter um agente literário - para o autor só preocupar-se com a escrita - e tem aqueles mais puristas, aguardando que alguém descubra seus talentos. Não dá para estabelecer um caminho certo ou errado, só escrevendo e arriscando que podemos descobrir onde nos encaixamos - se é que nos encaixamos - no mercado da literatura.


TC) Qual a importância dos concursos literários para o seu percurso de escritor?

Rodrigo Domit - Os concursos literários - ao lado dos exercícios de escrita exaustivos e das leituras prazerosas - foram essenciais no meu processo de formação como escritor. Nunca fui de gostar muito do que eu escrevia, mas em 2007 eu descobri os concursos literários e, na primeira tentativa, fui selecionado para a coletânea do Concurso de Contos Luiz Vilela. Hoje eu sei o quanto este prêmio é disputado, mas até o resultado eu não sabia. Quando eu descobri um pouco mais sobre a importância do concurso, comecei a pensar que, se uma comissão julgadora repleta de renomados literatos gostou do meu conto, alguma qualidade ele devia ter, né? E aí eu decidi que devia virar escritor mesmo.

Por conta da importância que dou para os concursos literários no incentivo à produção literária, criei em 2011 o blog Concursos Literários, no qual ajudo a divulgar editais e resultados de certames organizados por todo o país.


TC) Como foi o início de sua vida na literatura e o que diria para os escritores que estão começando o caminho?

Rodrigo Domit - Eu passei por alguns momentos complicados em 2003; Naquela época, conheci os livros do Eduardo Galeano e devorei uns três ou quatro na sequência. Eu já gostava de ler, mas foi naquele momento que eu peguei gosto mesmo pela leitura; Depois disso foi só um passo para começar a escrever. No entanto, apenas em meados de 2006 que eu decidi me dedicar mais à escrita; Afinal, se todo profissional e todo artista passa por um período de formação, treinos e ensaios, por que é que os escritores não teriam que passar? Com o tempo comecei a colher os frutos em concursos literários, comunidades virtuais e no blog de exercícios literários que mantenho até hoje, o Tiro Curto.


TC) É possível viver só da escrita?

Rodrigo Domit - Se você tiver uma grande editora, uma agência literária ou uma rede de livrarias é possível viver da escrita alheia. Sendo escritor fica bem mais difícil...

Há exceções à regra, mas alguns dos maiores escritores do país sustentavam-se como funcionários públicos - cito Machado de Assis e Guimarães Rosa como expoentes. Como exemplo mais recente: o Cristóvão Tezza só conquistou independência do cargo que ocupava após o sucesso e as pomposas premiações pelo seu décimo terceiro livro, O filho eterno.

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